Não há mais bobos no Brasil.
Aquele que imagina ser o país o mesmo terreno vasto e generoso de desavisados eleitores passíveis de envolvimento com fábulas infantes sob a forma de promessas eleitoreiras, como outrora, é o verdadeiro enganado.
O fato é que o brasileiro, de norte a sul, a tudo já experimentou, a tudo viu, no que refere a engodos das mais diversas espécies e seus gêneros, a propósito de falácias e asneiras de candidatos em disputa de votos.
O eleitor daqui pode, tranquilamente, ser qualificado como um especialista, inclusive. Mais do que isso, a aptidão técnica, quase científica, do brasileiro para transitar e detectar facilmente o trololó eleitoral é de precisão científica, não apenas na intenção, mas já na consequência.Ora, são décadas de sucumbência ao palavreado vazio e às pretensões nefastas postas em prática após as posses de tantos que disseram tudo o que queria ser ouvido, amoldados à plateia, ao local, à hora do dia e às necessidades postas em questão. Na seara da mentira pelo voto, convenhamos, somos até doutores e sabemos onde mora o perigo.
Isto, no entanto, não significa dizer que estamos imunes a mais riscos a esta altura da trajetória democrática brasileira e que, já a próxima eleição, se defenestrará da vida pública os remanescentes da prática enganadora. Eu só quis dizer, e digo, que esses que assim agiram e obtiveram sucesso galgando os cargos disputados antes, e ali na frente, não obterão mais votos fundamentados no engano, só isso.
Ainda assim, muitos deles, quem sabe a maioria, se reelegerá, agora, pela consciente aquiescência da população que gosta e/ou necessita de ilusão. Pior: também pelos que jogam o jogo da forma espúria e na regra nefasta que se legitimou pelo tempo e pela prática. Isto mesmo. O brasileiro reelegerá antigos, e elegerá novos, calhordas, porque quer. Em pauta, sempre antes do interesse coletivo e futuro, está o carguinho do parente, do amigo, ou do conhecido, como a vil possibilidade do asfalto tantas vezes prometido em diversas oportunidades anteriores, por exemplo.
Haverá inclusive leilão de votos, sendo ungido vencedor, o candidato capaz de prometer e alcançar o mais de suas promessas às comunidades que pararem para escutá-lo.
No Brasil se acabaram os enganados e enganadores. Vigora simbiose entre ambos, em prefeita materialização da democracia representativa.